Após um período de espera, tivemos a oportunidade de conversar com o Embaixador Ismael Martins sobre sua vida, suas experiências e suas visões sobre Angola.
Quem é Ismael Martins?
Ismael Martins se descreve como um angolano de gema, nascido e criado em Luanda, filho de pais, avós e bisavós todos angolanos. Ele cresceu em Luanda, mas só teve a oportunidade de conhecer melhor Angola após a independência, devido às restrições do período colonial.
Infância e Juventude em Luanda:
Ismael Martins passou sua infância na área próxima ao hospital militar, em uma zona conhecida como Ramalho. Ele vem de uma família metodista e suas amizades na infância giravam em torno da igreja e da escola. Ele frequentou a Escola 15, onde fez amigos como Adriano dos Santos, e mais tarde o Liceu Salvador Correio, onde fez amizades que mantém até hoje, como Roberto Almeida.
Valores e Educação Familiar:
Ismael Martins cresceu com valores familiares muito bem definidos, incluindo cultos matutinos com seu pai, onde recebiam conselhos sobre como se portar na vida. Seus pais enfatizavam a importância da educação, da cidadania e da dignidade, preparando-os para enfrentar a concorrência e o racismo do período colonial. Ele também destaca a importância da família alargada e do respeito pelos mais velhos e antepassados.
Consciência Política:
Os pais de Ismael Martins incentivavam a formação de uma consciência política própria, sem doutrinação em casa, para evitar problemas com o regime colonial. Ele destaca que, apesar das tentativas do regime de manter a juventude apolítica, eles se tornaram rebeldes e lutaram por seus direitos.
Relação com Agostinho Neto:
Ismael Martins revela que seu pai tinha uma relação próxima com os pais de Agostinho Neto, devido às origens em Calomboloca e à participação na igreja protestante metodista. Ele menciona que Agostinho Neto chegou a morar em sua casa em Luanda para continuar seus estudos.
Influência das Lutas por Direitos Humanos:
A passagem de Ismael Martins pelos Estados Unidos nos anos 60 o expôs às lutas pelos direitos dos negros americanos, que tiveram um impacto significativo em sua vida. Ele também destaca a influência da luta pela independência do Congo e a figura de Patrice Lumumba como inspiração.
Guerra Fria e Cuba:
Ismael Martins aborda o contexto da Guerra Fria e a influência da Revolução Cubana, que inspirou muitos, inclusive em Angola. Ele menciona a admiração pela cultura cubana, especialmente a música, e a presença de cubanos em Angola desde cedo.
Relação com Diolinda Rodrigues:
Ismael Martins descreve sua relação com Deolinda Rodrigues como uma camaradagem na busca por objetivos comuns na luta angolana. Ele a considera uma percussora, destacando seu envolvimento político desde cedo, inclusive no Processo dos 50.
Actuação no Exterior:
Ismael Martins fala sobre sua atuação como estudante militante no exterior, onde a missão principal era desmistificar o colonialismo português e lutar pelo reconhecimento internacional da causa angolana.
